Nas quatro semanas do tempo do Advento, a Igreja nos convida a viver os sentimentos e a espiritualidade de nossos irmãos do Antigo Testamento, em sua longa espera pelo Messias prometido. Caminhamos ao encontro de Cristo, que vem ao nosso encontro no Natal.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj – Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia
Assim como a sociedade se organiza em torno do ano civil, a Igreja vive em função do ano litúrgico. Enquanto o ano civil começa no dia 1º de janeiro e termina no dia 31 de dezembro, o ano litúrgico começa com o primeiro domingo do Advento e termina com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. No percurso do ano litúrgico, vivemos as grandes etapas da História da Salvação: a promessa de um Salvador, a preparação de sua vinda, a encarnação e a vida pública de Jesus, sua paixão, morte e ressurreição, sua volta ao Pai, o envio do Espírito Santo e a peregrinação do Povo de Deus rumo à Pátria eterna. Mais do que recordar fatos do passado, fazemos “memória” deles – isto é, vivemos esses fatos hoje sob uma nova forma, com um novo espírito, abertos à ação da graça divina.
Nas quatro semanas do tempo do Advento, a Igreja nos convida a viver os sentimentos e a espiritualidade de nossos irmãos do Antigo Testamento, em sua longa espera pelo Messias prometido. Caminhamos ao encontro de Cristo, que vem ao nosso encontro no Natal, e nos preparamos para sua vinda gloriosa, no final dos tempos. Durante o tempo do Advento, nossos principais mestres são o profeta Isaías, o precursor João Batista e “a serva do Senhor”, Maria Santíssima.
Isaías viveu em um dos períodos mais difíceis da história do povo de Israel – aproximadamente no sétimo século antes de Cristo. Naquela época, o Egito e a Assíria disputavam o domínio da região. O profeta viu seu país ser invadido e destruído mais de uma vez. Embora tivesse bom relacionamento com a classe dominante, sua pregação não era ouvida. Ao contrário: seus ouvintes tornavam-se cada vez mais indiferentes, desprezando-o e ridicularizando-o. Isaías, contudo, não se calava. Suas palavras, marcadas pela esperança, ressoam ainda hoje: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus… A glória do Senhor se manifestará… Eis o vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina… Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo” (Is 40, 3.5.10-11). Isaías nos dá o testemunho da necessidade de buscarmos o Salvador, tendo uma vida reta e cheia de esperança viva.
João Batista, consciente de que sua missão consistia em preparar os caminhos apontados por Isaías, convidou o povo à conversão: “Aplainai o caminho do Senhor… Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo… Produzi frutos que provem a vossa conversão… Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo. Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Jo 1,23; Mt 3,2.8.10-11).
Maria Santíssima foi a primeira pessoa a saber que o Messias prometido era o próprio Filho de Deus. Na Anunciação, ela foi informada de que Deus tem um Filho e que, por isso, ele pode e deve ser chamado de Pai! Com o “sim”– “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) – ela colaborou decisivamente para que o Filho de Deus assumisse nossa carne e habitasse no meio de nós. Agora, podíamos novamente nos alegrar: Deus, o Emanuel, passava a caminhar em nossas estradas. Entre as lições que Maria nos oferece, destacam-se a disponibilidade e a confiança.
Isaías, João Batista, Maria e uma multidão de irmãos e irmãs de todos os tempos e lugares nos ensinam a viver o Advento com uma prece constante nos lábios e no coração: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20). Repetindo-a constantemente, estaremos nos preparando para acolher os dons que o Senhor deseja nos darpor ocasião de sua vinda.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-11/dom-murilo-preparar-caminhos-senhor.html